O dia não narrado.



Em todos os meus anos como cristão, nunca pensei e aprendi tanto a respeito dos acontecimentos que precederam e sucederam a crucificação de Cristo como nesses últimos dois meses. Escrever sobre minha experiência no período de Quaresma - 40 dias oração e reflexão - culminando na Semana Santa, é deveras complexa, em função da quantidade de informações que processei nesse período, pois é grande o número de fatos que eu nunca havia dado a devida atenção. 

Dentre muitas coisas, tracei um paralelo entre os acontecimentos do livro “As Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” (C.S.Lewis) e o último dia da vida de Jesus até sua ressurreição, que eu chamaria de “As Crônica do Reino - O Filho, a Corrupção e a Cruz” (rs), mas, definitivamente, o que mais me instigou e surpreendeu foi o dia que os Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João não narram: o sábado! O dia a respeito do qual a Bíblia faz silêncio, luto.  

No período da Quaresma (que fizemos juntos aqui no blog), a semana de número cindo foi a que mais me fez “viajar”. Os Talmidins (vídeos gravados pelo pastor Ed René Kivitz no YouTube) propostos para aquela semana falavam sobre pecado, em particular, o da traição de Pedro. Antes da captura do Mestre, ele disse que nunca O abandonaria, o que até tentou fazer quando se propôs a uma luta armada para evitar a captura do Messias. Imagino que tanta coragem vinha da fé que ele tinha que Jesus faria algo, talvez até conjurar as forças da natureza, como já havia controlado antes, ou acreditando que seus companheiros, os discípulos, se juntariam a ele na tentativa de evitar a captura de Jesus. O fato é que, quando ainda tentava manter sua promessa, acompanhando de longe o Libertador de Israel sendo levado detido para a casa do sumo sacerdote, quem sabe ainda esperando alguma ação milagrosa dEle, se viu só. Sob a ameaça de acabar com o mesmo destino de Jesus O traiu 3 vezes e como diz o evangelho de Lucas no capítulo 22, versículo 62: “chorou amargamente”.

No sábado do retiro refletimos sobre o Sábado que os Apóstolos e a Bíblia não dizem como foi. No dia não narrado, Jesus estava morto. "Poderia Deus morrer?" – indagou o palestrante do retiro. Imagino que a dúvida, o desespero, o luto pela perda do Amigo foram sentimentos que atormentaram os onze e, ainda, a desilusão com o companheiro de anos, o traidor. Pedro, que havia negado seu Amigo 3 vezes, se decepcionara consigo mesmo, pois não era tudo o que achava que era e também se decepcionara com o Filho de Deus, que não era o Messias que ele e seus companheiros estavam esperando. 

Refletir sobre o Sábado me faz pensar em aflição, em desilusão, em estar nu diante de Deus, sem sofismas, sem máscaras, desarmado. Isso me reforça a ideia do quanto o sofrimento é necessário para o discípulo de Cristo (o Cristão), porque o faz crescer, porque o deixa despido e o impele a estar só diante do Criador, sem ninguém para vê-lo e narrar o acontecido. Acho que esse tipo de sofrimento não é um sinônimo de derrota ou de pecado, mas sim de algo a ser encarado e até devidamente apreciado.

Na manhã de Domingo, o verdadeiro Cristo é revelado e encontrado, não apenas por ter vencido a morte e ressuscitado, o que é extraordinário e um grande milagre, mas, por antes disso, ter se entregado a humilhante e desumana morte na cruz, sem reagir, inocente de qualquer pecado, para mostrar a seus discípulos, fujões e traidores, as verdadeiras Boas Novas, a real natureza da Graça, que os salvou e nos salva independentemente das nossas traições, que são diárias. Penso que até Judas poderia ter se salvado, se este tivesse escolhido passar pelo sábado ao invés de desistir da Graça e acabar com a própria vida. Pedro, que também traiu seu Mestre, passou pelo sétimo dia daquela semana, encontrou o verdadeiro Messias a Quem não precisava mais esperar e, de todas as honras com as quais foi agraciado, foi privilegiado com uma morte semelhante a do seu Amigo, sem nunca mais ter que negá-lo.

Luiz Alberto,
Voluntário do BMM no RJ.

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