Dormência.


O nosso retiro já passou e a vida, agitada como sempre, me fez esquecer de muita coisa que passamos naqueles dias. Mas há sempre aqueles momentos em que Deus fala conosco e nos faz lembrar de certos momentos edificantes que vivemos com Ele. No meu caso, tem algo que Deus não me deixa esquecer daqueles dias: nossa dormência.
“O mundo é um moinho” e a cada vez que ele nos tritura, torce e esmaga aprendemos a ser mais resistentes. Precisamos ser fortes. Se choramos em público nos sentimos idiotas, fracos e inseguros. Aprendemos desde cedo que precisamos ser alguém na vida e logo aprendemos a estudar e a trabalhar até que consigamos nosso sucesso e conforto. Mas “o mundo é um moinho” e a cada vez que ficamos mais resistentes tornamo-nos também dormentes, anestesiados, vazios.  Vivemos em piloto automático.    
No retiro pensei muito na importância que eu dava ao sacrifício de Jesus na cruz. O que percebi foi que eu sou mais um anestesiado. Queremos sempre êxtase, a plenitude, mas no esquecemos de sentir tristeza, dor, agonia e tantos outros sentimentos que nos fazem mais fracos.
“A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração.” (Eclesiastes 7:3). Quando sentimos dor pela morte de Cristo, nós temos comiseração pelo sofrimento de Cristo na cruz e só quando entendemos e compartilhamos desse sentimento é que nossa celebração pela ressurreição é indescritível. Entendendo a dor e morte de Cristo, conseguimos amar o próximo.  
Muito já se escreveu sobre esse nosso estado de dormência. Lembro de músicas como Numb (Linkin Park), Comfortably numb (Pink Floyd), Hurt (na versão de Johnny Cash) muitas outras, mas hoje deixo aqui parte de um poema que já conheço há muito tempo.

Os homens ocos (T.S. Eliot)
I
Nós somos os homens vazios
Somos os homens de palha
Apoiados uns nos outros
A parte da cabeça cheia de palha. Ai
As nossas vozes foram secas e quando
Juntos sussurramos
São serenas e sem sentido
Como vento em erva seca
Ou pés de ratos sobre vidro partido
Na secura da nossa cave

Molde sem forma, tonalidade sem cor,
Força paralisada, gesto sem movimento;

Os que cruzaram
Com os olhos certeiros, para o outro reino da morte
Lembram-se de nós - quem sabe - não de
Violentas almas perdidas, mas somente
De homens vazios
Homens de palha.


Wesley Faria,
Voluntário do BMM no Rio de Janeiro.

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