A quem vocês estão procurando?


Desde a criação do mundo a humanidade está constantemente à procura de algo. Buscamos sentimentos, bens, pessoas, desejos, sonhos, conhecimento, emprego, dinheiro, família, cônjuge, amigos, comida, tecnologia, praticidade, felicidade, paz, paciência, etc. E, de modo geral, nunca buscamos algo que faça algum tipo de mal para nós mesmos (pelo menos é o que achamos). Mas em um desses dias de busca, descobri o quanto nossa finitude não sabe procurar. Explico! 

Enquanto caminhava com Jesus através da leitura do livro de João, fui surpreendida com uma pergunta que Jesus fez para um grupo de soldados, guardas e chefes de sacerdotes e fariseus: “A quem vocês estão procurando?”. Eles responderam: “A Jesus de Nazaré”, e Ele disse: “Sou eu” (João 18:1-5). Apesar daquele grupo ter respondido direta e corretamente; a pergunta de Jesus, que aparentemente é tão simples, dilacerou meu coração.

Ele estava perguntando para mim e eu não sabia respondê-la, e parece que todas as respostas que vinham em minha mente eram superficiais demais diante daquela pergunta. Não me via entre aquele grupo armado de legalistas que estavam ali para prender o Mestre e para quem a pergunta foi direcionada, então por que eu estava tão inquieta com tal pergunta? Eu só queria ser alguém digna de uma resposta à altura do meu Mestre, mas essa palavra d-i-g-n-a não cabe na resposta.

Existe um fariseu dentro de mim, que falsifica a imagem de Deus, transformando-o num ser limitado, cujo favor pode ser alcançado somente por meio da observância escrupulosa de leis e regulamentos. Este fariseu tem a capacidade de transferir, apontar e culpar os outros - até o próprio Cristo -, e seguir uma vida tão santa e impecável que não é digno de caminhar com um Cristo (ou qualquer outro tipo de pessoa) que não reconheça toda minha glória e honra devidos, meu comportamento exemplar e minha moral.

Esta minha natureza farisaica, digna de uma resposta à altura para o Mestre, revela meu coração egocêntrico e caminha junto com aquele grupo armado de legalistas que vão a procura do suposto Messias, que diz ser Deus, não responde minhas expectativas, conforme me convém, e deseja crucificá-lo. Este meu “eu”, que ainda assim eu tento justificá-lo da culpa e denomino de fariseu, se adora.

Numa tentativa de fuga, com dificuldade, prossigo lendo o livro de João. À medida que, inserida na história, me observo, vejo que ainda tento me justificar e me encaixar nas melhores posições e respostas em defesa ao meu Mestre. Tento ser discípula, mas o medo de ser reconhecida como seguidora dele, o peso da negação, a bofetada em sua face, a fuga e suicídio de Judas, os gritos em concordância com a multidão: “crucifica-o!”, estavam cada vez mais vivos dentro de mim. Com olhos cheios de lágrimas e querendo chorar muito alto de tamanha vergonha e dor, olho e vejo o Mestre morto.   

Seria eu essa pessoa que estava vendo e da qual minha alma se envergonhava e até sentia nojo? Não consegui, por alguns dias, continuar fazendo os exercícios da quaresma. Eu era culpada e o peso sobre meus ombros era pesado demais. Eu matei Jesus! Minha falsa espiritualidade era suja demais para deixá-lo vivo e seu sangue não ser derramado por mim. Entendi porque nenhum dos evangelhos falam sobre o sábado e chorei por sua morte. Meu coração só queria chorar como de uma criança desolada. Me senti muito pequena e aquele primeiro sentimento de dignidade, se esvaiu. 

Ainda envergonhada, perdida e envolvida por aqueles sentimentos, decidi continuar a leitura. Eu sabia da história e Jesus ia ressuscitar logo depois, mas aqueles sentimentos eram genuínos e muito maiores do que uma “simples” história religiosa que eu ouvi em toda minha vida.  

Comecei a ler o capítulo 20. A história continua. Era domingo e algumas mulheres foram até o sepulcro. A pedra fora removida, Jesus não estava lá e tudo ficou confuso outra vez. “Maria, porém, ficou a entrada do sepulcro, chorando” (verso 11). Compartilhei do mesmo sentimento dela e fiquei ali, sabendo que não estava sozinha, pois Maria me entendia e eu entendia Maria. Continuei lendo até que no verso 15, Jesus pergunta: “Mulher, a quem você está procurando?”.

mais uma vez eu ouço aquela pergunta e o sentimento de não ter resposta também. Desta vez, eu [já] sabia que não era digna de respondê-la e como uma criança, me senti tão livre que ele não considerou meu choro um ato de covardia ou fraqueza. Na verdade, nem eu considerei. Não posso procurá-lo em meu farisaísmo porque Ele não mora lá. Ele não é digno da minha religião. Não consigo buscá-lo com minhas próprias forças. Não posso enquadrá-lo em meus próprios desejos e satisfações, pois Ele é muito maior que minhas criações tolas. Ele está acima da Lei.

Assim como Maria demorou para reconhecê-Lo por tamanha tristeza ou simplesmente por alguma imagem errada que ela criou sobre o Mestre, não O reconheço enquanto estou centrada em minhas lágrimas e dores, nas minhas expectativas sobre o Messias, em meus padrões morais e éticos, em meu legalismo religioso, se ele fará ou não o que desejo, ou até mesmo se sou digna de encontrá-lo. Quero reconhecê-Lo como Maria reconheceu, ouvindo ele me chamar pelo nome e ser achada.


Com voz embargada, sussurrando, eu respondi: “Que bom lhe encontrar!”.

Descobri que posso até procurá-Lo, mas é Ele quem me busca e me acha.  Percebi que nem meus pecados tem o poder de matá-Lo, nem minha religiosidade tem a capacidade de limitá-Lo, nem meu esforço diário de conhecê-Lo, muito menos meu comportamento condicioná-Lo a me amar, porque Ele ultrapassa todas estas fronteiras.

Obrigada, Jesus, por me amar e vir me buscar!

Klécia Corcino,
Líder nacional do Brasil, Música e Missão.

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