O QUE OS CRISTÃOS NÃO ENTENDEM SOBRE A QUARESMA

O QUE OS CRISTÃOS NÃO ENTENDEM SOBRE A QUARESMA
Na quarta-feira de cinzas, um olhar sobre o que realmente significa a Quaresma.
BY ZACHARY K. PERKINS

Quando eu era criança, eu me lembro de perguntar aos meus pais o que "Quaresma" significava. Eu já tinha visto a palavra colocada em um sinal de fora de uma igreja católica local, logo acima, as palavras "peixe frito". A resposta que recebi foi que era "uma coisa católica." Eu não sabia muito sobre os católicos na época, então, eu simplesmente deixei pra lá.

Quando fiquei mais velho, eu vi mais pessoas falando sobre a Quaresma. Mesmo aqueles que não eram católicos. Nossa própria igreja evangélica começou a falar sobre o jejum durante a Quaresma.

O que fazem os cristãos cultivarem diferentes significados para a Quaresma? Como a Quaresma começa hoje, é hora de avaliar seu significado mais profundo. Eu pessoalmente acho que nós abraçamos a Quaresma porque intuitivamente percebemos que esses ritmos da vida espiritual são parte de dar nossas vidas em adoração - têm sido assim na Igreja durante séculos.

Muitos de nós pensam na Quaresma como um período de abrir mão de algo para Deus a fim de honrar seu sacrifício na cruz por nós, que comemoramos na Páscoa. Enquanto isso é parcialmente verdade, não é exatamente como a Igreja primitiva via a Quaresma. A Quaresma significa, na verdade,  antecipar o impacto total da Páscoa para o tempo em que estamos agora e para quando Cristo voltar.

Quando falamos de "abdicar de algo para a Quaresma," vamos ser honestos, nós na verdade pensamos: “vou jogar um osso pra Deus.” Mas, o tempo entre a quarta-feira de cinzas e domingo de Páscoa é para ser um momento onde nós saímos desse tempo e dos negócios do nosso mundo para gastar o tempo morrendo para nós mesmos. Não é apenas nossa maneira de dar Jesus Cristo um “tapinha nas costas”, mas é em primeiro lugar re-centrar a nossa vontade à Dele e, em segundo lugar, vivê-la em nosso mundo.

A palavra "Quaresma" vem da palavra utilizada no inglês antigo para “primavera” e foi concebida para espelhar a páscoa judaica. A Quaresma é constituída por 40 dias. O período de 40 dias espelha os 40 dias de Moisés no Monte Sinai e os 40 dias que Jesus passou no deserto. A Igreja reconheceu a necessidade de se espelhar nestes tempos mostrados nas Escrituras, a fim de lembrar a narrativa divina levando até a Cruz. Quando o Domingo de Ramos [o domingo anterior à Páscoa] chegar, estaremos celebrando o Rei que vem. E, em seguida, na Páscoa, a história de amor de Deus é completada com um túmulo vazio. É uma memória viva e, celebrando a Quaresma, vamos, de certo modo, viver esta memória por nós mesmos.

Cada jejum e festa na Igreja nos últimos 2.000 anos foram propostos a todo o corpo para nos lembrar que as ações de Cristo têm efeito pra nós até hoje. Eles são estações espirituais, lembrando-nos que os nossos pecados estão perdoados, que a morte foi abolida e que Cristo ressuscitou, também para nós, hoje. Eles servem para o nosso incentivo, de modo que quando estamos no culto no domingo de Páscoa, podemos confiantemente repetir as palavras de Gregório, o Teólogo, que disse: "Ontem eu estava com ele crucificado, hoje eu sou glorificado com Ele."

É importante lembrar também em tempos de jejum, como a Quaresma, que não estamos apenas "desistindo de alguma coisa," mas nós estamos "dando algo" e quanto menos absorvemos, mais podemos dar. Os cristãos sempre viram esse tempo como propício para dar esmolas, dar aos pobres e necessitados. Então, quando pensamos em Quaresma, pensamos em serviço e em ir para as ruas a fim de que o mundo possa conhecer as riquezas do amor de Deus. À medida que fazemos todas essas coisas, o amor de Deus se torna mais claro em nossos corações. Como o Padre Fulton J. Sheen disse:

“Podemos pensar na Quaresma como um tempo para erradicar o mal ou cultivar a virtude, um tempo para arrancar ervas daninhas ou plantar boas sementes. O que é o melhor a se fazer está evidente, pois o ideal cristão é sempre positivo e não negativo. Uma pessoa é grande não pela ferocidade de seu ódio do mal, mas pela intensidade de seu amor por Deus. Ascetismo e mortificação não são os fins de uma vida cristã; eles são apenas os meios. O fim é a caridade. A penitência apenas faz uma abertura no nosso ego no qual a Luz de Deus pode entrar. Enquanto nos esvaziamos, Deus nos enche. E é a chegada de Deus que é o acontecimento mais importante.”

Nada disso significa que o jejum não é importante. Pelo contrário, é extremamente importante, quando feito com o coração e a atitude certa. Como Fr. Sheen disse, o nosso arrependimento conduz a Deus enchendo-nos com mais Dele. Jejuar com a intenção de receber e não apenas de dar.


Quaresma é a primavera da esperança para todos os que acreditam que o túmulo está vazio e que a opressão do pecado e da morte acabou. É a primavera da esperança para os que estão de luto. Este tempo de jejum é tanto uma liberação para Deus, mas também a proclamação da liberdade por meio de Cristo. Mais do que isso, é também compartilhar a esperança para os outros dando nossas próprias vidas, assim como Cristo fez por nós na cruz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

POETIZAR - O Sarau dos amigos.

Poetizar Rio de Janeiro (7ª edição)

Oração, o pulso, a pulsação