A POESIA QUE SOMOS À POESIA QUE FAZEMOS.



Gastei uma hora pensando em um verso 
que a pena não quer escrever. 
No entanto ele está cá dentro 
inquieto, vivo. 
Ele está cá dentro 
e não quer sair. 
Mas a poesia deste momento 
inunda minha vida inteira.
Poesia - Carlos Drummond de Andrade

                Poesia! Sim, precisamos ir além do uso de poemas e literatura, precisamos ser poesia.  Mas afinal, poesia não é poema? A esta recorrente pergunta eu respondo um sonoro e assertivo “NÃO”. Apesar de alguns dicionários reduzirem sem ressalvas o significado de poesia ao de poema, ainda encontramos aqueles que corretamente fazem a distinção entre os termos, Vejamos o que o famoso Aurélio nos diz:

1. Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados. 2. Composição poética de pouca extensão. 3. Gênero poético. 4. Caráter do que emociona, toca a sensibilidade.

                Veja que 2 e 3 dão conta da corrupção semântica da palavra que hoje é significado de poema apenas (não há nada de errado nisso, pois essa é a função do dicionário.) Ficaremos com 1 e 4, pois são os que mais se aproximam de nosso assunto e abrangem a definição que alguns críticos da arte já vem fazendo uso há algum tempo, mas gostaria de atrelar a poesia algumas outras ideias: É através dela que buscamos o belo e é com ela com fazemos arte, portanto, digo que poesia é aquilo com o qual toda arte se faz arte.
                Afirmo essas coisas com base etimológica de poesia que vem do grego antigo poíesis (ποίησις) que por sua vez origina-se de poiein (ποιειν) traduzido como realizar; fazer; criar. Nós somos criação de Deus, o grande autor e poeta, somos poesia Dele e devemos ter consciência de nossa existência poética se queremos que nossa arte reflita o criador.
                Se nossa existência é, em si só, poesia porque buscar a fruição poética? Respondo, para que nos conheçamos a nós num constante exercício de autognose. É necessário que sejamos interpretados, que nos interpretemos como obras de arte. Interpretar vem do latim Interpretatio que tem origem em situações de comércio em que o preço (pretium) de algo era negociado do através do diálogo (inter). Precisamos de diálogo; dialogar com as obras poéticas de outros para que seja aflorada em nós a pulsão poética criadora que Deus colocou em nós, afinal não somos feitos a imagem e semelhança Dele? Logo, quando externamos nossa poesia nos tornamos mais íntimos de Deus e consequentemente de nós mesmos.
                Obviamente o querer fazer por si só não garante a feitura da obra. No poema apresentado na epígrafe desse texto notamos um poeta na angústia de exprimir aquilo que até então é inexprimível. Quanto mais entramos no universo do fazer poético e adquirimos conhecimento técnico sobre isso, mais exigentes ficamos com a exatidão de nossa expressão poética através de nossa arte.
                “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Com essa famosa frase de Thomas Edison eu advogo pelo conhecimento daquilo que fazemos, pois se queremos prezar pela excelência não podemos depender apenas de nosso talento ou inspiração. Devemos ser cristãos e artistas e não cristãos disfarçados de artistas. Para influenciar artistas e fazê-los caminhar conosco temos que dominar tanto a prática quanto a teoria daquilo que nos propomos a fazer. O que vai influenciar artistas e nos tornar referência não são nossas estratégias de evangelismo com arte, mas nosso gosto em comum pela arte que poderá gerar conversas espirituais.
                Não devemos fazer arte porque é bonitinho, mas porque nos entendemos como artistas. Da mesma maneira não podemos ser cristão porque é certinho, mas porque nos entendemos que somos novas criaturas. Nossa arte deve ser tão natural como nossa nova vida em Cristo. “Há metafísica bastante em não pensar em nada”; o trecho do poema de Alberto Caeiro é o que deixo aqui defendendo a naturalidade de nossa prática cristã e artística. Que sejamos autênticos naquilo que fazemos para que possamos enfim sair da sombra de “banda” BMM para nos afirmarmos como um movimento “espiritualmente artístico e artisticamente espiritual”.

Para meditar:
 Primeiro Samba (verdade no olhar)

Num dia - Arnaldo Antunes






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